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MORADIA DIGNA

A exposição Moradia Digna, da artista Maria Esmênia, traz uma reflexão crítica sobre a população em situação de rua, um problema global na contemporaneidade, é um dos direitos humanos fundamentais, consagrados em documentos internacionais e em constituições de países do mundo, como um todo. No entanto, apesar da sua importância inegável, a realidade mostra que esse direito é negligenciado e desrespeitado nas sociedades contemporâneas. Com base nestas questões, fruto de mais de dois anos de pesquisa, a artista através da sua obra coloca o espectador diante de fatos, criando oportunidades de empatia e consciência diante desta realidade.

A expressão "pessoas em situação de rua" é de uma complexidade que transcende a mera ausência de um teto, pois abre uma ampla diversidade de experiências, desafios e vulnerabilidades sociais que moldam a vida de bilhões de indivíduos em todo o mundo. Ela não é simplesmente falta de moradia, ela é mais que isto; é um estado de desamparo sistêmico, onde as pessoas são vítimas de uma série de fatores interconectados, como pobreza, desemprego, falta de acesso a cuidados de saúde adequados, problemas de saúde mental e vínculo em substâncias químicas. A estigmatização e a discriminação desta população perpetuam o ciclo de desamparo, dificultando seu acesso a recursos e apoio. Estamos num mundo onde hoje 100 milhões de pessoas vivem nas ruas e um bilhão vive em assentamentos precários e favelas; no Brasil vivem nesta situação de rua 281.400 pessoas, segundo pesquisas de organismos nacionais e internacionais.

Filósofos e teóricos sociais têm abordado a questão da moradia em situação de rua e as questões sociais relacionadas a ela. John Rawls, filósofo político, é conhecido por sua teoria da justiça como equidade. Argumento que pensa uma sociedade justa como aquela que garante igualdade de oportunidades para todos, independentemente da classe social. Martha Nussbaum desenvolveu a abordagem das "capacidades humanas centrais", que destaca a importância de garantir que as pessoas tenham acesso às condições básicas de vida que permitem o florescimento humano e cita a moradia digna como elemento fundamental para isto. Slavoj Žižek, filósofo contemporâneo que frequentemente critica o sistema econômico global, argumenta que a lógica do capitalismo pode levar à exclusão social e à falta de moradia e enfatizando a necessidade de uma análise crítica das estruturas sociais. Jean-Jacques Rousseau, em seu contrato social, fez críticas à desigualdade social, argumentando que a sociedade deve encontrar formas de garantir o acesso aos recursos básicos, incluindo a moradia digna, como um direito de todos. Amartya Sen, economista e filósofo desenvolveu a abordagem das "capacidades" na teoria da justiça, argumentando que a pobreza não deve ser medida apenas em termos de renda, mas também em termos de acesso a oportunidades e recursos, como moradia. Gilles Deleuze e Félix Guattari, filósofos franceses exploraram conceitos de "esquizofrenia" social e "territorialização", oferecendo perspectivas de análises diferentes sobre a questão da moradia de rua, desde a abordagem na justiça social até a crítica das estruturas econômicas. Judith Butler, filósofa que se concentra na teoria queer e nas questões de identidade, argumenta que a falta de moradia pode ser vista como uma questão de vulnerabilidade, e destaca como as normas sociais marginalizam e desumanizam as pessoas em situação de rua.

Portanto, a crise da moradia não é apenas um problema de natureza econômica, mas também um reflexo de valores e prioridades sociais. Refletir sobre Moradia Digna, é o desafio proposto desta exposição, que criou um espaço de visibilidade, para dar lugar ao debate para reavaliar nossas prioridades sociais, aproximando estas realidades diversas, com objetivo de ser ético e humano, neste espelhamento social.

Meg Tomio Roussenq

Curadora e Artista Visual

Maria Esmênia, artista visual, nascida em Lages/SC. Reside em Florianópolis/SC. Preferencialmente trabalha com aquarela. Nos últimos anos tem se dedicado a estudos para projetos artísticos em torno de questões sociais. No período 2022/2023:- participou da exposição coletivas promovidas pela Associação Catarinense dos Artistas Plásticos- ACAP, Espaço Cultural BRDE, Associação Paulista de Belas Artes-APBA, Galeria EUEARTE, Biblioteca Universitária da UNIVALI e Biblioteca Universitária da UFSC, dentre outros. Premiada com o Prêmio Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura / Artes Visuais - edição 2022, com o projeto: Origens, um resgate de memórias, expôs individualmente na cidade de Lages em maio de 2023, no Espaço Cultural Juca Antunes, com apoio da Fundação Cultural de Lages. Foi selecionada para a Residência Artística Virtual Compartilhada - Fluxos (IN)Fluxo: Transitoriedade, que aconteceu de setembro de 2022 a Março de 2023, tendo trabalho selecionado para exposição coletiva da Residência, em 2024. Foi premiada nos salões: Ecológico e de Aquarela, promovidos pela Associação Paulista de Belas Artes/SP. Participa do movimento USKFln; é vice-presidente da ACAP, gestão 2023-2025; frequenta o Ateliê Alvéolo de Zulma Borges, e MEG.Estudio de Meg Roussenq, em Florianópolis.

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O projeto Moradia Digna foi iniciado formalmente no ano 2020, através de estudos e pesquisas sobre o tema. É um projeto artístico que faz crítica à exclusão social sofrida por milhões de pessoas ao redor do mundo, no que diz respeito ao que se ajustou chamar direito à cidade, ou seja, direito ao saneamento básico, à educação, à saúde, à cultura, ao fazer, ao trabalho, ao morar dignamente. Moradia Digna – a exposição - mostrará a extensão do problema mundial das pessoas em situação de rua e suas consequências, como a vergonha, a fome, a certeza do não pertencimento e outros.

QUEM É JOSÉ?

José é o personagem da pesquisa e exposição Moradia Digna e como o Homem do Subsolo, da novela de Dostoiévski é ávido para conhecer a realidade e os significados da vida humana. Ele existe, mora nas ruas de Florianópolis há mais de 20 anos. Quando entrevistado, perguntado se tinha sonhos, disse ter três sonhos: um prato de comida, uma casa e uma cama. Os sonhos de José são os temas da exposição.

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QUEM É A POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA?

População em situação de rua consiste em um “grupo heterogêneo, que tem em comum a extrema pobreza, vínculos familiares fragilizados ou rompidos, a vivência de um processo de desfiliação social decorrente da ausência de trabalho assalariado e que assume a rua como espaço de moradia e sustento”.

QUAL O TAMANHO DESTA POPULAÇÃO?

Segundo a Organização das Nações Unidas - ONU, são 100 milhões de pessoas nas ruas de todo mundo e cerca de um bilhão de moradores vivendo em assentamentos precários e favelas. Dados de órgãos como a ONU, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA, de algumas prefeituras, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE,  de ONGs ao redor do mundo todo, apontam para 281 mil pessoas no Brasil, sendo 52.226 na cidade de São Paulo e 86.782 no estado de São Paulo. Na França 330.000 pessoas dormem nas ruas, sendo pelo menos 3.000 pessoas nas ruas de Paris. Na Itália, estudos de 2021, um total de 100.000 estão em situação de rua. Na Espanha, 28.552 pessoas foram atendidas nos centros de alimentação, em 2022. Até a Suiça, um dos países mais ricos do mundo, tem quase 600.000 pessoas consideradas pobres. A Finlândia é o único país do mundo que não tem moradores de rua. Estes são apenas alguns dados, citados para vislumbrar a extensão da situação.

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DEFINIÇÕES
E CÓDIGOS

A) Palavras-chave: moradia digna, dignidade, direitos sociais, direitos humanos.

B) Códigos: Pedaços de papelão, amarras dos sistemas social, político e econômico, lixa, prato velho e vazio, palavras escritas como: fome, casa, cama, figuras de fantasmas, cores sombrias e cores alegres, banana. Enfim, códigos significando o viver das sobras de um materialismo exacerbado, que exclui milhões de pessoas que sofrem da maior doença social no mundo: a desigualdade social.

SÉRIES DO PROJETO

A) Fome de sonho: Convida a construção conjunta de um sonho: uma casa para José. Os trabalhos produzidos sobre lixa preta, remetem à aspereza da vida do personagem; as cores vivas fazem parte dos seus sonhos; as colagens, em aquarelas rasgadas simbolizam a soma das migalhas que alimentam seu sonho e seu viver.

B) Fantasmas: esta série pergunta: qual o rosto dos mais de 100 milhões de pessoas em todo mundo que não possuem um lugar para viver dignamente? E dos mais de 1 bilhão que reside em moradias inadequadas.

C) Bananas e significados como: fruto rico em amido e potássio, tido como “barato” e acessível; pessoa sem energia; banalização como sinônimo de vulgarização, mediocrização, no popular “gesto obsceno que consiste em dobrar o braço e levantar o punho, etc.

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SUPORTES

A exposição está montada em suportes como: entrevistas gravadas, documentos e textos expostos, trabalhos em aquarela e outras linguagens como a colagem, fotos, casa física, objetos como o Casaco e Cachecol para José, Fluxograma, Mapas - fantasia, Livros – esculturas, instalações.

A montagem da exposição está estruturada sob duas perspectivas: a realidade e o sonho. Na sala Lindolf Bell I está a crítica à situação de vida das pessoas em situação de rua; na sala Lindolf Bell II uma soma de sonho e realidade sobre o tema. Parte do ateliê da artista, trazido para a exposição, expõe seus trabalhos e oferece uma área de serviços, propondo uma interação com o público visitante que terá a oportunidade de, através de gestos simbólicos, manifestar-se sobre o problema. Realidade e sonho se transfiguram e se interdeterminam apostando num mundo de inclusão social para toda a humanidade.

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Refletir sobre Moradia Digna, é o desafio proposto nesta exposição que criou um espaço de visibilidade para o problema, entendendo que a arte não precisa responder às demandas políticas, mas que existe uma relação indelével entre a produção artística e o mundo na contemporaneidade. Ideias e gritos fazem-se necessários.

BIBLIOGRAFIA

Faça o download da Bibliografia do projeto clicando no botão abaixo:

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